segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Vampirologia ― não ria ― acaba de perder um expoente.

Morreu no sul da França o historiador romeno Radu Florescu, 88 anos, professor emérito do Boston College, nos EUA, e responsável por revelar a ligação entre o conde Drácula, personagem criado pelo escritor inglês Bram Stoker em 1897, e um monarca do século 15, o príncipe Vlad Tepeş [pronuncia-se te-pesh], que dominou a região da Valáquia, entre o Danúbio e os Cárpatos, perto da Transilvânia, na atual Romênia.

     Em parceria com seu colega de cátedra, o americano Raymond T. McNelly, Florescu foi autor, em 1972, do livro “Em Busca de Drácula”, grande sucesso de vendas e que tornou Vlad quase tão famoso quanto o próprio conde. Um dos motivos era o fato de que, em seu apogeu, o príncipe mandou empalar cerca de 100 mil otomanos, quase  devastando as matas da região com sua política de obrigar os inimigos a sentar-se sobre estacas pontiagudas.

     O fato de Vlad gostar de sangue e ser também conhecido como Dracul * ― dragão ou, na intimidade, o diabo ― foi suficiente para que Florescu e McNally explorassem a crença daquela região em vampiros e fizessem a conexão. Na verdade, não há uma linha no livro que prove essa identidade. O que há é uma argumentação que finge que se leva a sério, dá voltas em torno do assunto e sugere muito mais do que afirma. Infalível para convencer quem quer se deixar convencer.

     Até então, Florescu era um homem austero, especialista em Leste europeu e autor de livros sérios, um deles sobre as relações diplomáticas anglo-turcas. O estouro de em “Em Busca de Drácul” mudou sua vida. De repente ― e até o fim ―, ele passou a viver de palestras muito bem pagas em universidades, às quais comparecia usando uma capa de vampiro.

     A história ― como bem sabem os historiadores ― já foi uma ciência mais rigorosa.

· Dracul [não obstante sua origem latina, o romeno ― como acontece como as línguas escandinavas. norueguês, sueco e dinamarquês ― usa o artigo definido  no final do substantivo e junto com ele. Por exemplo, dracu em romeno significa dragão, mas o dragão – com o artigo definido -  é dracul.  Tempo é tempu, mas o tempo é tempul

Radu Florescu

Portrait of Radu Florescu.jpg

Nascimento: 23 October 1925
Bucharest, Romania

Morte: 18 May 2014
Mougins, France

Ocupação: Historian, Professor

Radu Florescu (23 de outubro de  1925 – 18 de maio de 2014) foi um acadêmico romeno que exerceu a posição de Professor Emérito de História no Boston College, onde ganhou reputação mundial por sua obra sobre Vlad Dracula, inclusive uma série de bestsellers cuja autoria ele compartilhou com seus colega Raymond T. McNally. Além de servir como Diretor do East European Research Center no Boston College, Florescu foi também um filantropo e assessor de Edward Kennedy sobre assuntos dos  Balkans e Leste Europeu. À época de sua morte, Radu Florescu foi considereado o patriarca da família  Florescu.

Vida

Fuga da Romênia

Florescu nasceu em Bucareste de uma família aristocrática, a mais antiga das famílias boyar romenas. Ele deixou a Romênia no início da II Segunda Guerra Mundial e se mudou para Londres, onde seu pai, um diplomata pró-Alliados que exercia o posto de embaixador da Romênia junto ao Reino Unido, desafiou uma ordem de se retirar do posto por parte do governo pró-Eixo de Ion Antonescu. Em protesto contra a nova aliança da Romênia com a Alemanha Nazista, o pai de Florescu renunciou ao posto e se juntou ao Comitê da Romênia Livre em oposição ao regime fascista de  Antonescu. Depois de deixar a escola, Florescu recebe uma bolsa para estudar  ciências históricas na faculdade Christ Church da Universidade de Oxford. Ele completou seus estudos na Indiana University-Bloomington, da qual ele obteve um Ph.D.

Ele recebera seus B.A. e M.A.da Christ Church, Oxford na Grã-Bretanha, antes de ir para os  Estados Unitdos , onde ele completou seu Ph.D. na Indiana University.

{Um boyar, ou bolyar (Búlgaro: боляр or болярин; Ukraniano: буй or боярин; Russo:боя́рин, tr. boyarin, IPA: [bɐˈjarʲɪn]; Romeno: boier, IPA: [boˈjer] (http://rpmedia.ask.com/ts?u=/wikipedia/commons/thumb/2/21/Speaker_Icon.svg/13px-Speaker_Icon.svg.png ); Grego: βογιάρος),era um membro da mais alta classe da Bulgária feudal, das aristocracias Moscovita,Kievan Rus'ian, Wallachiana e Moldaviana, apenas um degrau abaixo dos príncipesreinantes(na Bulgaria, tsars), do 10º até o  século 17º. Esta posição permaneceu como um sobrenome na Russia e Romênia,e também na Finlândia, onde é pronunciado Pajari.}

Boston Durante a Guerra Fria

Ele então começou uma carreira acadêmica como  professor de história noBoston College. Aí ele se encontrou com seu futuro colega, Professor Raymond T. McNally. No início da carreira de Florescu como professor nos anos 1960s, ele escreveu diversos livros sobre a história da Romênia tais como The Struggle Against Russia in the Romanian principalities, 1821-1854.

    Radu Florescu criou uma ponte diplomática entre os Estados Unidos e a Romênia. Serviu como assessor não somente para Edward Kennedy sobre assuntos dosBalkans, mas também para o setor de imprensa na White House durante a visita doPresidente Richard Nixon em 1969 à Romênia.

    Em, 1986, Florescu tornou-se Diretor do East European Research Center noBoston College e permaneceu naquela posição até à sua aposentadoria em 2008. Nessa função, ele organizou seminários sobre temas que variavam da difusão da Cultura Trácia na antiguidade ao surgimento do anti-Semitismo na Romênia no período entre-guerras.

Romênia Pós-Revolução

De 1996 a 2004, Florescu serviu como Consul Honorário no Estado de  New England pelo Ministério do Exterior Romeno, a primeira pessoa a ser nomeada para tal posição nos Estados Unidos. Seu primeiro trabalho como consul honorário foi acompanhar a votação pelos cidadãos romenos na área de Boston numa das primeiras eleições democráticas romenas desde a Revolução de 1989. Ele se tornouCônsul Honorário Emérito.

Por ocasião de sua morte, a Família  Real Romena emitiu um comunicado de condolências e de  reconhecimento da obra de Florescu.

Busca do Drácula

Em seu bestseller Em Busca do Drácula (1972), em co-autoria com Raymond T. McNally, ele dá a entender que o brutal Vlad III, voivod* do principado deWallachia, serviu de inspiração para o  Dracula de Bram Stoker. Vlad era um membro da Casa de Drăculești, e a novela de  Stoker teve lugar em locais reais tais como a Transilvania e o  Tihuta Pass, incluindo até mesmo corretamente as linhas férreas. Por este motivo, Florescu concluiu que o principal caráter deve ter sido também inspirado por fatos. Vlad Țepeș, conhecido pela matança de muitos  Saxõese Ottomanos, com uma inclinação para impalar seus inimigos em estacas, era a escolha lógica do modelo para o Drácula. O livro foi traduzido para 15 línguas e impulsionou a indústria do turismo romeno à medida que jovens ocidentais acorriam à Romênia atrás dos passos do histórico Drácula.

[*Voivod ― (Old Slavic, literally "warlord") é um título Eslavo que originalmente designava o comandante principal de uma força militar (warlord). A palavra veio gadualmente a designar o  governador de uma província).

    Florescu também escreveu a respeito de criações literárias como Frankensteincom o In Search of Frankenstein (1975) e o Pied Piper of Hamlin com o  In Search of the Pied Piper (2005). No primeiro, Florescu defendia a teoria de que o teólogo alemão, alquimista, anatomista e médico Johann Konrad Dippel serviu de inspiração para a novela Frankenstein de Mary Shelly.

Books

Florescu, Radu; (2005). In Search of the Pied Piper. Athena Press. ISBN 1-84401-339-1.

Florescu, Radu; McNally, Raymond T. (1994). In search of Dracula: the history of Dracula and vampires. Houghton Mifflin Co. ISBN 0-395-65783-0.

McNally, Raymond T.; Florescu, Radu (1992). The complete Dracula. Acton, Mass: Copley Pub. Group. ISBN 0-87411-595-7.

McNally, Raymond T.; Florescu, Radu (1989). Dracula, prince of many faces: his life and his times. Boston: Little, Brown. ISBN 0-316-28656-7.

In Search of Frankenstein: Exploring the Myths Behind Mary Shelley's Monster. Boston, MA: Little, Brown and Company. 1975; rev. 1996. ISBN 978-1-861-05033-5.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: